O Planejamento e Controle da Manutenção na Indústria 4.0

Dentro da indústria, o setor de PCM – Planejamento e Controle de Manutenção é responsável por traçar estratégias de manutenção que sejam capazes de garantir a confiabilidade e disponibilidade dos ativos. Além de manter essa disponibilidade e confiabilidade, o PCM também deve manter a produtividade da equipe de manutenção.

Em meados de 1950, entre o período da 2ª Guerra Mundial e no período de Pós-Guerra, a indústria teve que rever alguns conceitos básicos e dentre eles, estava a Manutenção Industrial.

Após a Segunda Guerra Mundial, ao rever a forma de atuação da Manutenção Industrial, foi introduzida na indústria a Manutenção Preventiva. O conceito de Manutenção Preventiva é: executar ações de manutenção, de tempos em tempos, visando restabelecer as condições originais do equipamento, antes que surjam falhas potenciais.

Você sabe a diferença entre Falhas Potenciais e Falhas Funcionais? Leia: Curva PF – O que é e como usar.

Esse conceito nasceu na Segunda Geração da Manutenção, e para suportar a Manutenção Preventiva, nasceu o PCM – Planejamento e Controle de Manutenção.

Estamos falando de um conceito que surgiu há quase 70 anos e duas gerações atrás, e que precisa ser revisto e atualizado.

No início do artigo eu falei que o objetivo da PCM é traçar estratégias que garantam a confiabilidade e disponibilidade dos ativos, elevando a produtividade. Um conceito que também mudou foi o conceito de produtividade.

O conceito antigo de produtividade prega: “Fazer mais, com menos.” Ou seja, realizar cada vez mais atividades de manutenção com menos recursos (menos tempo, pessoas, peças de reposição e consequentemente, menos dinheiro).

O novo conceito de produtividade na manutenção prega: “Fazer menos, com menos.” Ou seja, realizar cada vez um número menor de atividades de manutenção, com recursos cada vez mais otimizados.

O PCM deve se adequar a esse novo conceito, caso tenha interesse em se manter um setor competitivo, estratégico e alinhado com os objetivos globais.

Entre as décadas de 1970 e 1980, a Terceira Geração da Manutenção surgiu, trazendo o conceito de Manutenção Preditiva e demais técnicas que visavam um ambiente proativo. Ou seja, identificar e quantificar a falha potencial, e atuar o mais próximo possível da falha potencial.

Com isso, os custos de manutenção puderam ser reduzidos. Uma vez que paramos de atuar de tempos em tempos (Manutenção Preventiva) e passamos a atuar com base na condição do equipamento (Manutenção Preditiva), fazendo apenas aquilo que é realmente necessário para manter nosso ativo.

Agora, estamos na Quarta Revolução Industrial, e junto vem a Quarta Geração da Manutenção, que visa trazer uma infinidade de novos conceitos para suportar essa nova fase da indústria.

Leia também: Indústria 4.0 – Tudo o que você precisa saber sobre a Quarta Revolução Industrial.

O PCM na Indústria 4.0 – O que muda?

Como dito acima, o PCM é um setor que está há mais de 70 anos atuando e desde então, não tem passado por atualizações significativas.

O maior marco referente à atualização do setor foi a informatização, que aconteceu há mais de 40 anos. Antes tudo era feito e controlado manualmente, com uso de papel e caneta (acredite, ainda existem indústrias nessa realidade). Desde a criação de planos de manutenção, controle de ordens de serviços, cálculo de indicadores, tudo era feito na mão.

Com a informatização, foram introduzidos softwares para gestão da manutenção e esses softwares automatizaram algumas ações, evitando a ocorrência de falhas humanas na gestão e controladoria da manutenção.

Uma falha muito grande dentro do ambiente de PCM é a extrema preocupação com as tarefas de caráter administrativas e burocráticas, deixando de lado as de caráter técnico, que são aquelas que realmente aproximam o setor do seu objetivo.

As mudanças que chegarão ao PCM, podem ser resumidas em três tópicos:

  • Total Previsão de Falhas
  • Elevação da Produtividade da Manutenção
  • Redução dos Custos de Manutenção
  • Desenvolvimento Técnico da Equipe

PCM na indústria

PCM PLANEJAMENTO E CONTROLE Da MANUTENÇÃO

PCM na indústria

Total Previsão de Falhas

A combinação das técnicas abaixo pode resultar na Total Previsão de Falhas, onde passamos a tratar as Falhas Funcionais (aquelas que impedem que o equipamento desenvolva sua função dentro do processo) não sejam tratadas como uma opção.

  • Rastreabilidade
  • IIoT – Industrial Internet Of Things
  • Big Data e Data Analytics
  • Nuvem de Dados

Exemplos:

  1. Através da Rastreabilidade de Componentes, podemos acompanhar toda a sua vida útil em tempo real, e através de um software, decidir qual é o melhor momento para realizar a sua troca. Dessa forma, temos um altíssimo índice de confiabilidade, um altíssimo índice de disponibilidade e um baixo custo de manutenção.
  2. Através da combinação da Industrial Internet Of Things, Big Data, Nuvem de Dados e sistemas ciberfísicos, podemos ter sensores de vibração em equipamentos rotativos e esses sensores que monitoram em tempo real, de forma extremamente precisa, os níveis de vibração dos equipamentos. Dessa forma, assim que uma falha surgir, o próprio equipamento dá o diagnóstico do problema, diz o que deve ser feito para ser corrigido e altera automaticamente o seu regime de trabalho para garantir que a falha não se agrave até que seja corrigida. Enquanto isso, tudo é analisado por sistemas e os dados são armazenados em nuvem.

Elevação da Produtividade da Manutenção

Hoje, um dos desafios da manutenção é manter a produtividade dos técnicos. No Brasil, o índice de produtividade de um técnico de manutenção gira em torno de 12% a 25%, o que é totalmente improdutivo.

Um cenário pode ser considerado produtivo, quando esse índice é superior a 30%. As principais causas da improdutividade podem ser vistas no gráfico abaixo:

Ao analisarmos as causas de improdutividade acima citadas, podemos eliminar ou otimizar, todas elas com técnicas nascidas na Indústria 4.0. Sendo elas:

  • Realidade Aumentada
  • Visão Artificial
  • Robô Colaborativo

Exemplos:

  1. Através de um robô colaborativo, podemos eliminar o tempo que um técnico desprende em busca de ferramentas e peças para realização do trabalho.
  2. Podemos eliminar o tempo usado para obtenção de instruções sobre a atividade que irá ser realizada, através da realidade aumentada.

Redução dos Custos de Manutenção

Estima-se que em até 2025, a implantação de processos oriundos da Indústria 4.0 pode resultar na redução de 10% a 40% dos custos de manutenção, redução no consumo de energia de 10% a 20% e aumento da produtividade de 10% a 25%.

Como isso é possível?

Algumas possibilidades são:

  1. Eliminação de boa parte do estoque de peças de reposição através da Manufatura Aditiva. Ou seja, as empresas poderão fabricar as peças de reposição de acordo com a demanda.
  2. Eliminação de boa parte do estoque de peças de reposição através da Total Previsão de Falhas. Dessa forma, as compras serão feitas apenas de acordo com a necessidade.
  3. Robôs Colaborativos poderão substituir mão de obra que trabalham com atividades repetitivas e sem necessidade de alguma especialização.
  4. Técnicas Avançadas de Simulação poderão evitar e prever possíveis falhas em projetos e processos, poupando tempo e dinheiro para solução de possíveis problemas.
  5. Elevação na produtividade da mão de obra permitirá um quadro de funcionários mais enxuto.

Desenvolvimento Técnico da Equipe

Um lema que nós da ENGETELES carregamos desde a nossa fundação é: “Não existe melhoria de processos, sem o desenvolvimento de pessoas.”

Não adianta termos uma visão orientada à melhoria de processos, se não pensamos no principal: o desenvolvimento técnico e intelectual das pessoas que compõem os processos. Todo processo tem uma ou mais pessoas por trás, e se essas pessoas são desenvolvidas, por consequência, o processo também será.

Quando o assunto é Educação e Desenvolvimento, a Indústria 4.0 traz uma série de técnicas e processos tecnológicos que facilitam o desenvolvimento técnico e intelectual da equipe, de forma didática, dinâmica e interativa.

Exemplos:

  1. A Realidade Aumentada permite que um colaborador leia uma apostila, e através de um smartphone, pode interagir com o conteúdo exposto. Supondo que ele leia sobre a manutenção de um motor elétrico, ao invés da apostila mostrar uma simples imagem do motor, ele pode desmontar um modelo em 3d, remontar, ter vistas explodidas, simular situações reais, etc.
  2. Através da Visão Artificial, um colaborador que nunca teve contato com manutenção elétrica, pode ver um procedimento passo a passo, enquanto realiza uma determinada atividade de manutenção.
  3. Através da Simulação Avançada é possível simular diversos tipos de eventos e preparar a equipe para agir da melhor forma possível em cada situação.

Conclusão

A Indústria 4.0 já é realidade. Tudo o que foi mostrado aqui, já foi feito e aplicado com sucesso em indústrias de todo o mundo. Temos a certeza da possibilidade, agora cabe a nós trabalhar para que tudo seja escalável e em breve se torne comum.

A busca para a escalabilidade dos processos é o maior desafio nesse momento, para colocar tudo isso em prática é necessário que seja economicamente viável e uma vez que isso acontecer, a revolução estará feita.

A tecnologia aliada à indústria fará com que verdadeira revolução aconteça. Geração de emprego e renda, soluções de problemas sérios como a escassez da água, fome  e a poluição atmosférica estarão cada vez mais próximas.

Tudo depende de um único fator: escalabilidade!

E aí, você está preparado para ser um protagonista na revolução?

 


Leia Também:

[ess_grid alias=”blog-masonry-2″][/ess_grid]

Gostou desse conteúdo? Compartilhe!
Imagem padrão

Jhonata Teles

Jhonata Teles é profissional certificado internacionalmente pela SMRP – Society Maintenance & Reliability Professionals, na categoria CMRP – Certifield Maintenance & Reliability Professional.

Especialista em Gestão, Planejamento e Controle de Manutenção, Analista de Vibração com certificação Nível 2 pela FUPAI e certificação internacional pela Instituição Canadense Mobius Institute, especialista em Lubrificação Industrial com certificações internacionais MLT-1 e MLA-1 pelo ICML – International Council of Machinery Lubrication.

Possui mais de 12 anos de experiência em indústrias de grande porte, sempre dedicados a Gestão da Manutenção, PCM e projetos de Confiabilidade Industrial. Atuou como Analista de Vibração, Consultor Técnico, Supervisor de PCM, Coordenador e Gerente de Manutenção em indústrias dos segmentos alimentício, higiene e limpeza, químico, metalúrgico e cimenteiro.

Autor dos livros e métodos de capacitação: Planejamento e Controle da Manutenção DESCOMPLICADO ®, Bíblia do RCM e Gestão de Paradas de Manutenção.

Como Diretor de Operações da ENGETELES já liderou mais de 300 projetos de consultoria no Brasil e em seis países, além de ter capacitado mais de 10.000 profissionais na área de Gestão da Manutenção.

Artigos: 93